Se um dia me deixar de procurar, morri. Saio todos os dias à rua com uma vontade imensa de me encontrar, mas perco-me sempre em recantos obscuros da minha alma, em curvas e contra-curvas dos meus problemas, em desejos impossíveis e em tentativas loucas de alcançar um plano mais elevado.
Se um dia me deixar de perder, deixei de existir. Só faço sentido como um poço de contradições, como uma metáfora enrodilhada num paradigma, como algo que existe sem sentido, apenas por existir.
Se um dia deixar de correr atrás de quem não me espera, enlouqueci. Não sou louco, só uma pessoa normal com ambições anormais, com um imenso desespero existencial. Preciso da imperfeição para singrar, preciso que me moldem, ao mesmo tempo que moldam os outros.
Se um dia deixar de ser quem sou, desliguem a ficha, apaguem a máquina, injectem-me com a solução fatal. Eu sou o que sou, seja isso bom ou mau, e não quereria ser de outra maneira. Já me tentei modificar por quem não precisa que me modifique, já tentei fugir para locais de conforto que não são os meus locais de conforto, e isso só me matou mais um pouco.
Se um dia deixar de amar loucamente, já não me valerá a pena amar. O amor não será nunca racional, e eu racional não quero ser. Quero perder-me, entregar-me, sofrer e rasgar todas as feridas que existem para ser rasgadas. Não quero barreiras. Não quero nada.
Se um dia deixar de escrever, já não serei eu. A escrita é um escape para os meus medos mais profundos, para o meu pânico entranhado, para os meus ódios e para a minha paixão. Mesmo sem saber escrever, escreverei sempre, pois escrever está-me no sangue.
Se um dia me esquecer de ser eu próprio, não serei mais ninguém. E desvanecerei como uma qualquer sombra que por cá andou.
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