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sábado, 14 de fevereiro de 2015

Varoufakis e o cachecol da Burberrys ou a falta de argumentos

Yanis Varoufakis (grego:  Γιάνης Βαρουφάκης) é o ministro da Finanças grego. O governo Syriza convidou-o para conduzir as díficeis negociações com a Europa, na esperança de conseguir um pouco de oxigénio para um país à beira da explosão social de novo. Ao contrário do que é comum nas políticas dos países da União Europeia, um economista de créditos firmados foi convidado para assumir o ministério relevante e está a provar ser uma melhor escolha do que a maior parte dos outros. Varoufakis é visto na Europa como uma lufada de ar fresco, com uma mentalidade menos ligada à austeridade e aos velhos do Restelo e mais virada para o crescimento económico e para o alívio das necessidades das partes mais desprotegidas da Europa. Ele não representa apenas a Grécia, representa todos os países (incluindo Portugal, por muito que o nosso primeiro ministro não queira) que foram levados à beira da destruição por uma política sem grande sentido de austeridade - não que ele defenda que a Grécia regresse aos maus hábitos anteriores (todos nós admitimos, incluindo os Gregos, que este país viveu muitos anos muito acima das possilbilidades), mas o que assusta os arautos da austeridade é que Varoufakis acusa quem devia acusar e quer cortar os privilégios a quem eles deviam ser cortados - aos monopólios, aos oligarcas, aos magnatas, aos políticos que fogem aos impostos - não aos pobres pensionistas que muitas vezes não têm sequer dinheiro para ir ao médico ou para pagar a electricidade.

Varoufakis, como disse, é um economista de créditos firmados - foi o autor de um livro sobre a crise global (The Global Minotaur), escreveu (com o antigo membro do parlamento inglês e professor convidado da Universidade de Coimbra Stuart Holland) um outro livro chamado A Modest Proposal - também sobre a crise económica, foi professor da Universidade de Sydney e é professor da Universidade de Atenas. Além disso - e, estranhamente, na altura não existiu nenhuma polémica, foi também conselheiro do antigo primeiro-ministro socialista (?) grego, George Papandreou. É consultor independente de uma das maiores companhias de jogos do mundo (Valve) e esteve envolvido numa das plataformas com mais sucesso de todos os tempos, que criou uma micro-economia com um motor completamente diferente (Steam). Embora se defina como marxista, é um marxismo diferente, sem tanta política e mais em versão económica. Por fim, tal como a maior parte dos ministros deste novo governo, não vem de uma família política.

Toda esta introdução para vos falar da última história que apareceu nos jornais de todo o mundo: Varoufakis foi a Bruxelas, a uma reunião para renegociar a economia grega e o plano de ajuda. Como disse acima, para tentar conseguir um pouco de oxigénio para o país. Varoufakis foi com uma mente aberta, com uma atitude conciliatória mas não subserviente, e apresentou os seus argumentos. De acordo com o estilo deste governo, escolheu uma forma de vestir nada pretensiosa e muito menos pomposa do que o típico governante. Apresentou os seus argumentos, que muitos outros economistas (incluindo portugueses) consideraram válidos e bem mais ponderados que o programa de austeridade. Estranhamente, os jornais e os críticos do centrão focaram-se apenas numa coisa: Varoufakis apareceu com um cachecol da Burberry's, um cachecol que custa usualmente quase 500 euros. Aparentemente, o ministro da economia Grego, que repito - é professor universitário e consultor de uma das maiores companhias de jogos do mundo e tem vários trabalhos publicados (livros dão royalties, lembram-se?), perdeu toda a sua credibilidade porque apareceu com uma peça de luxo. O senhor deveria ter ido para a reunião vestido como um mendigo, porque uma pessoa que se deu bem na vida (por mérito próprio) não tem voz para falar sobre aqueles que não têm tanta sorte! Varoufakis, embora não o tivesse que fazer - já que a vida pessoal dele e o que ganha (volto a repetir, por mérito próprio) é apenas com ele e ninguém tem nada a ver com isso - deu-se ao trabalho de responder no twitter a um dos indignados - "foi um presente da minha mulher 12 anos atrás. A sua curiosidade está satisfeita?". 

Alguns "comentadores" portugueses, naqueles comentários de jornal, vieram também colocar por palavras a sua indignação. Chamaram-lhe esquerda caviar, hipócrita e aproveitaram para disparar mais umas farpas contra os gregos (pasme-se, não contra a Alemanha que os rouba, contra o governo português que vos carrega com austeridade ou contra o próprio governo grego anterior, que era tão subserviente como o português é actualmente - mas contra os preguiçosos (!) dos gregos). Ou seja, os comentadores do centro (PS e PSD) português aparentemente pensam que o governo português - que baixou ordenados, criou desemprego, faliu empresas e continua a lamber botas à senhora Merkel, está correcto e que o governo Grego, que defende os direitos do país, que luta pelo seu povo (e que, parecendo que não - como Francisco Louçã, com quem não simpatizo particularmente, disse e com toda a razão - representa também Portugal) é hipócrita. Porquê? Porque um ministro grego não apareceu vestido como um mendigo numa reunião Europeia e usou uma peça de luxo oferecida pela mulher. Vi até pessoas a exigirem a justificação de como ele conseguiu comprar o cachecol - portanto, um político (que também é professor universitário e autor) tem que guardar todas as facturas de tudo (incluindo de uma peça de roupa com 12 anos) porque no futuro, eventualmente, pode dar-se um shitstorm porque essa pessoa (que 12 anos atrás não fazia a mais pequena ideia que iria estar no Governo) resoveu usar uma peça de uma marca que é demasiado cara para ele. Seria engraçado se não fosse tão estúpido.

Eu digo: Força Varoufakis. Da próxima vez usa uma camisa Armani! 


   






Nota: A imagem de Varoufakis foi retirada da Wikipedia. O autor e a página podem ser encontrados nesta ligação.

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