Conheci-te de forma fortuita, e preferia que isso nunca tivesse acontecido. Não porque te odeie, longe disso, mas porque ainda me fazes falta.
Todos os dias me lembro do teu sorriso, da tua forma de caminhar, dos teus pequenos tiques, das tuas pequenas neuras e depressões, dos teus (poucos) defeitos e das tuas qualidades.
Coloquei-te num patamar demasiado elevado, e, mesmo com todos os que me diziam que não era bem assim, recusei-me a tirar-te de lá. Afastei pessoas que nenhuma culpa tinham, fiz birras (sim, birras, não existe outro nome), fiquei tão obcecado pelo teu bem-estar que acabei por o colocar em causa. Nunca quis que isso acontecesse, mas nunca consegui ser racional quando se tratava de falar sobre ti, de te defender e mesmo de te atacar - o que sentia por ti era tão forte que me impedia de controlar o que fazia.
Disse muitas vezes que te amava, mas não sei se alguma vez isso aconteceu realmente. Era mais um sentimento de posse injustificada, uma percepção de injustiça que nunca aconteceu, uma amizade (ou amor) tão forte que tornou o ar em torno de nós impossível de respirar. Era uma relação doentia, mas que tu não fizeste porque acontecesse; cedia ao teu mínimo desejo, e corria que nem um cão sempre que fazias um gesto. Nunca me pediste que o fizesse, mas eu estava tão embrenhado no meu pequeno mundo que pensei que era recíproco. Claro que não era, porque tu eras uma pessoa normal e eu não estava em mim, construi castelos na areia que, obviamente, se desmoronaram um atrás do outro.
Ainda existe uma pequena parte do meu ser que tem esse tipo de comportamento quando se fala de ti. Existe uma voz cá dentro, que tento reprimir e calar constantemente, que me diz muitas vezes: talvez ela volte, talvez desta vez seja diferente, talvez desta vez tenhas uma hipótese, talvez algo tenha mudado, talvez tu te consigas controlar e ela mude de opinião - tudo parvoíces. O que está feito, feito está e não existe uma segunda oportunidade de causar boa impressão. Estraguei as hipóteses que nunca tive, e ao longo do tempo, fui abrindo cada vez mais a minha cova - ficou mais profunda, mais ampla e mais díficil de sair lá de dentro. Se aparecesses aqui ao meu lado agora, seria tudo igual. Irias apaixonar-te por alguém, eu iria odiar esse alguém (que nenhuma culpa teria), iria fazer tudo para que te corresse mal (por mais que te dissesse o contrário) e acabaríamos no mesmo sítio de onde partimos - no limbo, na relação doentia, mas com um fosso ainda mais fundo e comigo ainda mais destruído, as feridas seriam reabertas, iriam ser criadas novas e eu sangraria até que o meu cérebro não aguentasse mais e explodisse de novo, rebentando com tudo o que existe à minha volta.
Não sei o que me deu para pensar que te amava.Não sei se foi simples tesão (embora me digam o contrário, continuas a ser das mulheres que mais me atrai), não sei se foi atração pelo fruto proíbido (como sabia que nunca te poderia ter, tornei-te a mulher dos meus sonhos e pesadelos) ou se foi realmente amor (embora um amor distorcido, retorcido e fragmentado em pedaços de ódio). Sei que foram 5 anos da minha vida em que vivi para ti, pensei que te amava e te odiei muitas vezes (mais do que seria saudável). Acho que foi um caso de friend zone levado ao extremo, mas uma friend zone em que existia um amor filial da tua parte - eu era teu irmão, nunca me conseguiste ver de outra forma - tornei-me tão presente na tua vida que passei a fazer parte da família.
Lembras-te quando nos diziam que fazíamos um casal perfeito? Como ficavas envergonhada quando o diziam, te apressavas a desmentir e eu ficava com um ar magoado, por vezes à beira das lágrimas? Não me perguntes porque ficava assim, nunca me deste muitas esperanças e as que deste, foram porque interpretei mal o que querias dizer. Lembras-te quando nos diziam (e tu própria dizias) que tínhamos todas as nuances de um par de namorados, excepto as discussões e o sexo? Talvez tivesse sido melhor termos discutido mais, e de forma mais aberta - teria sido mais saudável. Talvez se assim tivesse sido, as coisas não tivessem explodido da forma que explodiram.
Não te vejo faz dois anos. Deixei de ter sinal de ti. No princípio, ainda tentei muitas vezes chamar por ti. Enviei-te mensagens, escrevi-te cartas, publiquei nas tuas redes sociais, perguntei a toda a gente por ti. Ainda te considerava a pessoa mais importante do mundo (pelo menos do meu mundo) e, embora estivesse habituado a perder pessoas de forma ainda mais permanente, não conseguia aceitar que o mesmo acontecesse contigo. Quando deixei Portugal, pensei sinceramente que ia ter notícias tuas. Na noite anterior à partida, não dormi à espera de uma mensagem, de um telefonema, de um convite para café - faria todo o caminho a pé, como tantas vezes fiz, para estar contigo uma última vez. Pedi, uma vez que nunca me respondeste, que te enviassem uma mensagem. Respondeste a essa mensagem, mas só a outras perguntas. Ignoraste o que te pedia. No aeroporto, antes da partida para a maior aventura da minha vida, quando me despedia dos meus pais, que sempre me deram tudo e me apoiaram em tudo (mesmo nas decisões mais estúpidas da minha vida), só pensava em ti. No caminho até ao terminal de embarque, olhei constantemente para o telemóvel sempre à espera que o teu nome aparecesse. No avião, antes da descolagem, esperei até ao último minuto que me enviasses uma despedida. Na escala que fiz, antes de ligar aos meus pais e à pessoa que se preocupou mais e incentivou a minha partida (um amigo comum, tu sabes quem ele é) procurei uma mensagem tua. Quando falei com ele, foi a primeira coisa que lhe perguntei - ela disse alguma coisa? Quando a resposta foi negativa, soube que nada mais seria o mesmo, e que tal como tinhas surgido, te tinhas desvanecido no ar. Sabes que terias sido a única pessoa capaz de me impedir de deixar a terra mãe? Bastava ter existido uma mensagem da tua parte, e tudo teria voltado à estaca zero. Mas, por muito que me tenha custado na altura, ainda bem que não o fizeste. Permitiu-me partir sem remorso.
Ainda penso em ti, ou não esteja eu a escrever este texto. Por muito que queira convencer-me que as coisas ficaram completamente para trás, seria uma mentira idiota. Resta-me saber viver com o teu nome tatuado no meu cérebro e esperar que não te ame de novo.
Nota: A pessoa retratada neste texto é ainda muito importante para mim (e penso que o irá ser sempre) e, embora pareça, não existe qualquer ressentimento da minha parte. Este texto é, ao mesmo tempo, um pedido de desculpas (onde quer que estejas, desculpa!) e um desabafo que explica coisas que, por cobardia, não fui capaz de explicar a essa pessoa na altura. Desculpem-me a tirada à drama queen, mas é a única forma que sei de exprimir sentimentos, por muito adolescentes e idiotas que eles sejam. Quando me apetecer, volto a coisas mais mundanas e menos pita histérica. Cheers!
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