Não tenho por hábito falar disto, uma vez que se trata da minha vida pessoal e não gosto de incomodar as pessoas com relatos do que é viver com uma doença crónica - todos nós temos problemas, de um tipo ou de outro, e ninguém tem que me aturar os desabafos.
Mas também não escondo de ninguém (amigos, colegas, chefes) que sou epiléptico e que a qualquer momento me pode dar uma traquitana e começar a estrebuchar no chão e a babar-me como um rottweiler com raiva. Não me parece que seja epiléptico seja nenhum motivo de vergonha, mas são exactamente algumas atitudes que já experienciei que me levam a escrever hoje.
A epilepsia não é uma doença fácil de controlar. Exige moderação em tudo - moderação essa que não é fácil de praticar para mim - e medicação constante, medicação essa que impede ataques mais graves, mas que também nos torna um pouco em zombies e que leva a alterações de humor constantes, o que, admitamos, não é nada agradavél para quem vive connosco e tem que nos aturar.
Supostamente, com epilepsia, não podemos trabalhar com computadores (a minha profissão), não podemos beber café (o meu maior vício) nem podemos beber álcool (embora não seja alcóolico, também não sou abstémio de todo). Não posso estar em locais com muitas luzes (discotecas incluídas, embora isso nada me incomode) nem posso viver sozinho por muito tempo, uma vez que um ataque epiléptico sem ter ninguém que me ajude me pode levar desta para melhor (o que para uma pessoa um pouco anti-social como eu não é fácil).
Existem pessoas que comentam que eu sou distraído, que referem a minha abstração de formas menos agradáveis (usualmente pelas costas, mas tudo se sabe, meus amigos) e que se esquecem que viver com algo que nos pode transformar num vegetal dependente de outros (pelo menos durante algumas horas ou dias) a qualquer momento não é nada fácil.
Fazer EEG's todos os semestres, perder tempo em hospitais e farmácias a tentar encontrar a dose certa do medicamento (o tal que nos transforma em zombies) também não é a melhor forma de passar os dias. Não poder conduzir, não poder ir para locais mais exóticos onde o dito medicamento não exista, não poder estar em locais com muito barulho, ser muitas vezes rude com pessoas apenas porque nos dói imenso a cabeça também não ajuda a ter uma vida social decente. Além disso, a vida amorosa sofre bastante - quem raio quer passar o resto da vida com uma pessoa que pode virar uma beterraba de um momento para o outro (para além de poder morder e partir metade dos móveis na casa e alguns dentes quando tem um ataque)?
A coisa engraçada da epilepsia é que, sendo uma doença que afecta milhões de pessoas, tem uma terrível falta de informação sobre ela. Sempre que digo que sou epiléptico, a primeira questão (depois do eventual "coitadinho" e de me perguntarem se me vai dar um ataque e porque estou a beber café) é "se te der uma coisa, o que é que eu faço???". Ninguém - a não ser que tenha um epiléptico na família - sabe o que fazer na eventualidade de um ataque e parecem ficar muito assustados por fazermos uma vida normal (ou tentarmos).
Sendo uma doença crónica, outra coisa que me dói é termos que pagar por medicamentos. Senhores, eu não posso viver sem o ácido valpróico - ou transformo-me numa batata. Não tenho tempo para ir a um neurologista sempre que preciso de medicamentos - digamos que os hospitais públicos não os têm em abundância e os neurologistas privados são um "pouco" caros (para não pensarem que estou a exagerar, estive uma vez num hospital público 12 horas a aguardar consulta, já que as consultas de neurologia levam tempo, e quando fui a um neurologista privado, tive 4 minutos de consulta - o diagnóstico dele depois de olhar para o EEG foi "você tem epilepsia", como se eu não soubesse já e paguei 80 Euros) e se for com uma receita de um médico de família, tenho que pagar.
Peço desculpa pelo rant, mas quando alguém me chama retardado por ter epilepsia, tendem a acontecer estas coisas.
Postas de Pescada Fresquinhas, de um Gajo meio parvo ou a vida de um Idiota Romântico
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sábado, 25 de julho de 2015
quinta-feira, 23 de julho de 2015
Democracia Europeia ou a União dos Poderosos
Ainda só posso levantar 60€ por dia. Que na verdade são 50€, pois os ATM's nunca têm notas de 20. Não existem transferências para o estrangeiro - a não ser para pagar despesas médicas ou de educação - e só posso comprar online se a empresa que vende tiver conta num banco grego.
Tudo aumentou. Não muito, mas nota-se. 10 cêntimos no café - já de si caro - e 40 cêntimos no souvlaki - a nossa fast-food. Muitas bombas de gasolina não aceitam cartões, mas pelo menos os bancos reabriram - mas não se podem abrir contas novas. Nem levantar dinheiro. Nem transferir dinheiro de uma conta para outra (mesmo que seja grega).
Parece que as pessoas estão a tentar viver normalmente, mas existe um peso que se sente no ar. Passou a esperança - veio a incerteza. Possivelmente poderia ter sido diferente. Se os governos do Sul, em vez de terem tido medo de perderem as eleições - tivessem pensado no povo que sofre.
A austeridade não funciona. Nada resolve. Está mais que provado - vezes sem conta economistas o disseram. O que fazemos quando um medicamento não funciona? Segundo a União Europeia, continuamos a tomá-lo, na vã esperança que funcione, até que morramos todos de uma overdose de um medicamento que não é de todo apropriado para a maleita.
A União Europeia foi criada como um baluarte de Democracia. Mas é uma democracia que funciona se todos fizerem o que os países mais poderosos querem. Se alguém tentar sair da linha aprovada, iremos esmagar e humilhar esse país o mais possível.
Este é um texto desiludido. Infelizmente. Mas já não acredito nesta Europa.
Tudo aumentou. Não muito, mas nota-se. 10 cêntimos no café - já de si caro - e 40 cêntimos no souvlaki - a nossa fast-food. Muitas bombas de gasolina não aceitam cartões, mas pelo menos os bancos reabriram - mas não se podem abrir contas novas. Nem levantar dinheiro. Nem transferir dinheiro de uma conta para outra (mesmo que seja grega).
Parece que as pessoas estão a tentar viver normalmente, mas existe um peso que se sente no ar. Passou a esperança - veio a incerteza. Possivelmente poderia ter sido diferente. Se os governos do Sul, em vez de terem tido medo de perderem as eleições - tivessem pensado no povo que sofre.
A austeridade não funciona. Nada resolve. Está mais que provado - vezes sem conta economistas o disseram. O que fazemos quando um medicamento não funciona? Segundo a União Europeia, continuamos a tomá-lo, na vã esperança que funcione, até que morramos todos de uma overdose de um medicamento que não é de todo apropriado para a maleita.
A União Europeia foi criada como um baluarte de Democracia. Mas é uma democracia que funciona se todos fizerem o que os países mais poderosos querem. Se alguém tentar sair da linha aprovada, iremos esmagar e humilhar esse país o mais possível.
Este é um texto desiludido. Infelizmente. Mas já não acredito nesta Europa.
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