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sábado, 30 de maio de 2015

Football Club United of Manchester: O Verdadeiro Futebol

Sou Benfiquista assumido - paixão que me cresceu desde pequeno, com idas ao velhinho Estádio da Luz com o meu pai (não foram muitas, porque já nessa altura os bilhetes eram caros), nadando nas piscinas do Sport Lisboa e Benfica (também nesse velhinho estádio, tendo que atravessar uma ponte que me aterrorizava sempre - quem vive lá perto sabe onde é - tendo a minha mãe muitas vezes que me dar a mão porque eu chorava, tremia e me recusava a passar por lá) e vendo o Benfica a passar alguns dos períodos mais negros da sua história - nasci em 85, lembro-me vagamente do título de 93-94, mas lembro-me bem melhor das épocas de Scott Minto, Martin Pringle, Michael Thomas e outros que tais. Portanto, sou Benfiquista, adepto de um grande clube, que, como todos os grandes clubes, funciona como uma empresa e serve para fazer lucros. Embora ainda não tenha sido comprado por um qualquer milionário, como muitos outros, não deixa de funcionar um pouco como uma corporação - os interesses financeiros sobrepõem-se muitas vezes à paixão pelo futebol.

Toda esta introdução para quê? Para vos dizer, a vocês que gostam de futebol, que hoje encontrei um novo clube para acompanhar e para gostar, para seguir e para apoiar. Este clube não é Português, e na verdade foi o meu estatuto de adepto do Benfica que me levou a conhecê-lo, embora também jogue de vermelho e branco. O novo estádio foi inaugurado recentemente, chama-se Broadhurst Park, e foi a equipa "B" do Sport Lisboa e Benfica que apadrinhou a estreia desta casa nova deste clube tão especial.

E é este clube tão especial porquê e porque merece que eu fale sobre ele neste blog que usualmente não fala assim muito sobre futebol? Por uma razão simples. Este clube é um sonho tornado realidade para quem vive o futebol pelo futebol, com toda a sua rivalidade, mas ainda mais com toda a sua paixão. Alguns anos atrás, o gigante de Manchester (o Manchester United, que o City é outra história) renegou a sua identidade de clube para os adeptos e dos adeptos, e vendeu-se (como tantos outros clubes ingleses) a interesses corporativos vindos de fora (os irmãos Glazer, americanos que já controlam outras equipas desportivas). O clube aumentou o preço dos bilhetes, mudou um pouco a identidade desportiva e aquilo a que chamaríamos - e esta é uma palavra muito querida aos Benfiquistas - mística do grande Manchester. Agora, não era diferente de tantos outros clubes da Premier League - uma corporação destinada a fazer dinheiro, a vender marketing, a comprar jogadores por milhões e vendê-los com lucro e, talvez em último lugar, a ganhar títulos desportivos (algo que continuou a acontecer durante algum tempo, mas que não demorou muito a sujeitar-se a imperativos financeiros). Aparentemente, tinham-se acabado os jogadores de uma equipa só, os ícones e alguma da paixão.

Assim que souberam da intenção dos Glazer comprar o clube, alguns adeptos tentaram impedi-la. Não o conseguiram, porque o dinheiro fala sempre bastante alto. Ao não conseguirem fazê-lo, e continuando a assumir-se como adeptos do Manchester United, resolveram criar um clube que os levasse de volta às raízes - o FC United of Manchester, um nome semelhante para um clube que se quer semelhante ao que o outro seria antes dos Glazer - dos adeptos, para os adeptos. Ao ser fundado, cada sócio fundador teve direito a um voto. Qualquer sócio posterior tem direito a um voto, e o clube é gerido assim, por eleições, numa espécie de democracia directa, que os clubes grandes não possuem nem querem possuir. Cada sócio, como o próprio website do clube diz, é co-propriedade de todos os sócios com mais de 16 anos. Os bilhetes são acessíveis, os preços das quotas são ainda mais, o clube orgulha-se da boa vizinhança com os residentes da zona onde o estádio está instalado (uma nota no site informa os adeptos para não estacionarem nas ruas adjacentes para não perturbar os moradores, sendo que eles precisam daqueles lugares para estacionar), pessoas com dificuldades motoras têm uma bilheteira especial (pagando menos, e a entrada para o acompanhante é gratuita) e a rádio do clube diz que não tem qualquer problema (e até encoraja) com a leitura de mensagens de adeptos das equipas adversárias (e não inimigas, como muita gente em muitos países parece esquecer constantemente, incluíndo os adeptos do meu clube),

O F.C.U.M inaugurou o seu novo estádio, e orgulho-me de terem convidado o Benfica a estar presente. Tenho pena que não tenha sido a equipa principal, mas nem tudo é perfeito. O Benfica "B" venceu por 1-0, resultado diferente do de 1968, que deu ao outro United de Manchester  uma Taça dos Campeões Europeus, contra o SLB. Pelos comentários que li, todos os Benfiquistas se orgulharam da presença neste momento tão importante para este clube de sonhadores, que - para além de se ter mudado para casa própria, foi promovido este ano à Conference, entrando pela primeira vez nos campeonatos nacionais de Inglaterra.

Espero, sinceramente - e irei acompanhar o clube para ver o que acontece - que dentro de talvez outros 10 anos, os vejamos a jogar na Premier League, e talvez assistamos a um dos dérbis mais inusitados da história - Manchester United - United of Manchester. E talvez dentro, de outros 10, possamos ter um jogo contra o SLB, no Estádio da Luz, mas desta vez a contar e para a Liga dos Campeões. Sei que é quase impossível, mas Alex Fergunson chamou ao clube o Impossible Dream, e em 10 anos, existe uma casa própria e o clube está num campeonato nacional.

Aparentemente, o dinheiro não é tudo e a paixão e o amor pelo desporto (neste caso específico, pelo Futebol), move montanhas.


Jogo contra o Benfica "B", na inauguração de Broadhurst Park






sexta-feira, 22 de maio de 2015

Da Tragédia de Palmyra ou como os extremistas são uma cambada de bestas

O Estado Islâmico (e como me custa chamar-lhes estado) tomou Palmyra, uma cidade património mundial, por onde passaram quase todas as civilizações da história do Mediterrâneo. Isto, por muito que me doa, é um facto e não pode ser negado.

Aquela cambada de bestas, que não são Muçulmanos nem Islâmicos (porque Muçulmanos e Islâmicos são humanos e não animais mentecaptos), arvora-se em defensora de um estilo de governação de acordo com uma lei Islâmica que nem os próprios teólogos conhecem. Esta lei exige que mulheres sejam maltratadas, crianças violadas, povos dizimados, homens escravizados e agora, numa manifestação de terrorismo cultural, cidades históricas sejam destruídas.

Porquê? Dizem eles que a representação de outras religiões e outras culturas é uma afronta ao sagrado livro do Corão. Custa-me que uma religião que é tolerante (mais tolerante de que muitos reinos cristãos na Idade Média, pelo menos) esteja a ser usada por um punhado de energúmenos para justificar a sua sede de destruição e os seus instintos de psicopatas.

Palmyra é uma cidade que nos demonstra como as Civilizações evoluem - foi conquistada por Helenos, Romanos e Persas e nenhum deles destruiu os vestígios dos outros. Claro que em guerras de conquista acontecem e irão acontecer sempre perdas humanas, mas não confundamos perdas humanas (que não são justificadas, mas que irão sempre acontecer devido a necessidade do Homem roubar território a outros - é a competividade no seu nível mais básico) com perdas desnecessárias de um património que a ninguém pertence, pertencendo a toda a Humanidade, sendo o testemunho dos nossos antepassados e da nossa evolução.

Lembram-se dos Budas de Bamyan? Destruídos pelos Taliban porque eram contra a religião? Foi outro exemplo terrível de como alguns idiotas de mente controlada podem cometer os mais horrendos crimes contra a humanidade e não serem punidos até muito depois, por razões completamente diferentes. Que se lixe o nosso património cultural (e para além disso, que se lixem os povos que vivem sobre o domínio destes animais) enquanto não nos tocar a nós. É o big game diplomático, as considerações políticas que se sobrepõem a uma identidade partilhada que todos temos, supostamente.

O que me confunde ainda mais é como jovens ocidentais (e orientais e árabes), supostamente criados com acesso a informação e numa sociedade multi-cultural, podem querer de alguma forma juntar-se a reles gentalha como esta. Isto não é uma guerra de libertação, não é um statement político (que também é estúpido, aliás), não é sequer uma revolta. É provocar o caos pelo caos. É juntar-se a uma trupe que se delicia com a morte, a destruição e a confusão, embrulhados num manto de retalhos de uma religião que nada tem a ver com eles, para esconder que os líderes são algumas mentes desarranjadas mas carismáticas que encontram um grupo de gente fácil de influenciar para os seguir (o que, diga-se de passagem, é uma característica dos cultos apocalipticos e dos psicopatas).

Não sei se iremos a tempo de salvar Palmyra, como não fomos a tempo de salvar Bamyan. Mas vamos a tempo de salvar o resto e de libertar estes povos da garra destes idiotas. Sou contra a guerra em quase todos os pontos, mas desta vez digo aos senhores dos governos - vão para cima deles com tudo. Mas os senhores do governo não vão. Palmyra é cultura e história, mas não tem petróleo.


Image from Wikipedia: "Palmyra, view from Qalaat Ibn Maan, Temple of Bel and colonnaded axis" by Arian Zwegers - Flickr: Palmyra, view from Qalaat Ibn Maan, Temple of Bel and colonnaded axis. Licensed under CC BY 2.0 via Wikimedia Commons - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Palmyra,_view_from_Qalaat_Ibn_Maan,_Temple_of_Bel_and_colonnaded_axis.jpg#/media/File:Palmyra,_view_from_Qalaat_Ibn_Maan,_Temple_of_Bel_and_colonnaded_axis.jpg

terça-feira, 19 de maio de 2015

Textos Parvos I - "Quem Me Dera"

Quem me dera que a vida fosse simples. Que o céu fosse sempre azul, que não me acontecessem amores idiotas, que não metesse a pata na poça tantas vezes, que não tivesse tantas mudanças de humor, que gostasse de toda a gente e que toda a gente gostasse de mim.

Quem me dera que o mundo fosse simples. Que não existissem guerras, que não existissem vítimas, que não existissem sempre dois lados da mesma questão, que o mundo não fosse multi-facetado e um retalho de coisas correctas para uns que outros abominam.

Quem me dera que a minha caminhada por este universo tivesse apenas saída, uma estrada e que não se perdesse em encruzilhadas e em cruzamentos em que nunca sei para onde seguir. Quem me dera conseguir agradar a uma pessoa sem antagonizar outra.

Quem me dera que a estupidez me invadisse e que o meu pobre cérebro não ficasse a remoer coisas com muitos anos, a dizer-me (depois do facto consumado) como deveria ter reagido na altura, depois de ter completamente parado quando devia funcionar.

Quem me dera tanta coisa. Pode ser que um dia compreenda que o que quero é possível, ou pode ser que um destes dias as coisas mudem. Entretanto, fico-me pelo querer.


segunda-feira, 18 de maio de 2015

Do Acordo Ortográfico ou Como Destruir uma Língua

Alguém me diz que não sei escrever. Que as minhas palavras são retrógradas, que o que expulso para fora de mim na forma destes inconsequentes textos se encontra errado - que a forma como escrevi durante 28 anos da minha vida, que pessoas bem mais inteligentes do que eu me ensinaram - se tornou errada de um dia para o outro.
Não sou escritor e sou, ainda menos, o dono da verdade ou o arauto da pureza linguística do Português, a língua de Camões, de Pessoa, de Assis, de Pepetela, de Couto e de tantos outros que escrevem e escreveram em Português, com as suas nuances, com as suas diferenças e com o seu sal de cada uma das culturas que os criaram.
Não existe Brasileiro, não existe Angolano, não existe Cabo-Verdiano, existe Português - com várias diferenças entre si, com várias pronúncias diferentes, com pequenas coisas estúpidas na forma de escrever (um "c" que não se lê, um acento agudo que não faz falta absolutamente nenhuma), mas que fazem parte de 800 anos de crescimento, de separação e de comunhão.

Dizem-me, os senhores que criaram o Acordo Ortográfico, que a língua é orgânica e que eu sou um odioso conservador nacionalista que se recusa a aceitar a mudança - eu e mais alguns. Senhores, eu não recuso a mudança, recuso uma mudança imposta sem tino e que vai prejudicar centenas de milhares de pessoas que sempre escreveram da forma que foram ensinadas (e bem ensinadas). Não se trata de uma questão de nacionalismo - o Português, a língua maravilhosa, é lindo com sotaque Europeu, Brasileiro e Africano, sem esquecer o Asiático e o das comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo,

Recuso-me a aceitar que professores que aprenderam a escrever da mesma forma que eu, professores de Português, que são excelentes profissionais e algumas das pessoas mais brilhantes que alguma vez conheci - sejam obrigados, de forma contra-natura, a ensinar os seus estudantes um sucedâneo de Português em que eles próprios não acreditam.

Recuso-me a compreender porque tenho que escrever de uma forma que não é natural para mim, tal como não será natural para um falante de Português Brasileiro escrever Português Europeu. Um sucedâneo de Português, fabricado numa qualquer Academia, por especialistas que se arvoram em donos da verdade e da única forma de escrever correcta,

Este texto e este blog são contra o Acordo Ortográfico e se alguma das minhas palavras estiver escrita como deve ser de acordo com a nova grafia, avisem-me - porque isso sim foi um erro!