Toda esta introdução para quê? Para vos dizer, a vocês que gostam de futebol, que hoje encontrei um novo clube para acompanhar e para gostar, para seguir e para apoiar. Este clube não é Português, e na verdade foi o meu estatuto de adepto do Benfica que me levou a conhecê-lo, embora também jogue de vermelho e branco. O novo estádio foi inaugurado recentemente, chama-se Broadhurst Park, e foi a equipa "B" do Sport Lisboa e Benfica que apadrinhou a estreia desta casa nova deste clube tão especial.
E é este clube tão especial porquê e porque merece que eu fale sobre ele neste blog que usualmente não fala assim muito sobre futebol? Por uma razão simples. Este clube é um sonho tornado realidade para quem vive o futebol pelo futebol, com toda a sua rivalidade, mas ainda mais com toda a sua paixão. Alguns anos atrás, o gigante de Manchester (o Manchester United, que o City é outra história) renegou a sua identidade de clube para os adeptos e dos adeptos, e vendeu-se (como tantos outros clubes ingleses) a interesses corporativos vindos de fora (os irmãos Glazer, americanos que já controlam outras equipas desportivas). O clube aumentou o preço dos bilhetes, mudou um pouco a identidade desportiva e aquilo a que chamaríamos - e esta é uma palavra muito querida aos Benfiquistas - mística do grande Manchester. Agora, não era diferente de tantos outros clubes da Premier League - uma corporação destinada a fazer dinheiro, a vender marketing, a comprar jogadores por milhões e vendê-los com lucro e, talvez em último lugar, a ganhar títulos desportivos (algo que continuou a acontecer durante algum tempo, mas que não demorou muito a sujeitar-se a imperativos financeiros). Aparentemente, tinham-se acabado os jogadores de uma equipa só, os ícones e alguma da paixão.
Assim que souberam da intenção dos Glazer comprar o clube, alguns adeptos tentaram impedi-la. Não o conseguiram, porque o dinheiro fala sempre bastante alto. Ao não conseguirem fazê-lo, e continuando a assumir-se como adeptos do Manchester United, resolveram criar um clube que os levasse de volta às raízes - o FC United of Manchester, um nome semelhante para um clube que se quer semelhante ao que o outro seria antes dos Glazer - dos adeptos, para os adeptos. Ao ser fundado, cada sócio fundador teve direito a um voto. Qualquer sócio posterior tem direito a um voto, e o clube é gerido assim, por eleições, numa espécie de democracia directa, que os clubes grandes não possuem nem querem possuir. Cada sócio, como o próprio website do clube diz, é co-propriedade de todos os sócios com mais de 16 anos. Os bilhetes são acessíveis, os preços das quotas são ainda mais, o clube orgulha-se da boa vizinhança com os residentes da zona onde o estádio está instalado (uma nota no site informa os adeptos para não estacionarem nas ruas adjacentes para não perturbar os moradores, sendo que eles precisam daqueles lugares para estacionar), pessoas com dificuldades motoras têm uma bilheteira especial (pagando menos, e a entrada para o acompanhante é gratuita) e a rádio do clube diz que não tem qualquer problema (e até encoraja) com a leitura de mensagens de adeptos das equipas adversárias (e não inimigas, como muita gente em muitos países parece esquecer constantemente, incluíndo os adeptos do meu clube),
O F.C.U.M inaugurou o seu novo estádio, e orgulho-me de terem convidado o Benfica a estar presente. Tenho pena que não tenha sido a equipa principal, mas nem tudo é perfeito. O Benfica "B" venceu por 1-0, resultado diferente do de 1968, que deu ao outro United de Manchester uma Taça dos Campeões Europeus, contra o SLB. Pelos comentários que li, todos os Benfiquistas se orgulharam da presença neste momento tão importante para este clube de sonhadores, que - para além de se ter mudado para casa própria, foi promovido este ano à Conference, entrando pela primeira vez nos campeonatos nacionais de Inglaterra.
Espero, sinceramente - e irei acompanhar o clube para ver o que acontece - que dentro de talvez outros 10 anos, os vejamos a jogar na Premier League, e talvez assistamos a um dos dérbis mais inusitados da história - Manchester United - United of Manchester. E talvez dentro, de outros 10, possamos ter um jogo contra o SLB, no Estádio da Luz, mas desta vez a contar e para a Liga dos Campeões. Sei que é quase impossível, mas Alex Fergunson chamou ao clube o Impossible Dream, e em 10 anos, existe uma casa própria e o clube está num campeonato nacional.
Aparentemente, o dinheiro não é tudo e a paixão e o amor pelo desporto (neste caso específico, pelo Futebol), move montanhas.
Jogo contra o Benfica "B", na inauguração de Broadhurst Park