Não sei se esta mudança será para melhor - as intenções são boas, o programa do partido que venceu as eleições é um balde de água fria nos velhos do restelo que nos impõem a teoria que a crise só pode ser resolvida com austeridade, cortes e diminuição da qualidade de vida, com a destruição do estado social e com o ataque às partes mais frágeis da sociedade - deixando os privilégios dos mais ricos e dos oligarcas intactos. Não sei se será para melhor pois não sei se será possível implementar o programa pretendido - já começa a chantagem, a política do medo, as ameaças dos países (não dos povos, mas dos governos) que não querem deixar que se tente algo novo, talvez por medo que resulte e que prove que existe outro caminho.
O povo grego, que muitos não respeitam (tal como não respeitam Portugal, Espanha e Itália - o famoso acrónimo anglo-saxónico P.I.G.S deixa bem claras as ideias de algumas partes da sociedade do norte da Europa quanto aos povos do Mediterrâneo) quis dizer não e ir por outro caminho. Tentar algo novo, diferente e assustador. Dar o poder à verdadeira Esquerda, não ao centro. Farto do centro estamos nós. O Syriza (por muito que me possa provar errado nos próximos anos) parece-me diferente. Parece-me honesto nas suas intenções e, sem esconder o que pretende, conseguiu ganhar as eleições - apesar de todas as ameaças, de todo o "medo" que tentaram colocar no povo Grego, apesar de tudo - venceram.
Num país profundamente religioso (a Grécia é um dos poucos países europeus com uma religião de estado) um líder ateu e um partido laico ganharam.
Num país com um praga de corrupção - um partido anti-corrupção e um líder até agora não corrompido pelos grandes interesses, foram eleitos.
Num país com famílias (ou melhor, dinastias) políticas, um líder vindo do nada (Alexis Tsipras não é de uma família com tradição política) ganhou.
Num país cheio de oligarcas, um partido anti-poder ganhou as eleições, apesar de tentarem incutir no eleitorado a mentira da irresponsabilidade da Esquerda.
Estou confiante que este partido (ex-coligação de tendências diferentes, um pouco como o nosso Bloco de Esquerda, mas aparentemente mais preocupado com o país e o Povo do que com poder interno) vai dar uma lição de governação a toda a Europa.
Mas agora, falemos da outra face da moeda; o voto de protesto, de desespero, pode dar para dois lados: ou para a esquerda mais radical, mais anti-poder, ou para a direita xenófoba e quase neo-nazi (digo quase pois o partido que falarei a seguir recusa essa denominação).
O terceiro partido mais votado foi o Aurora Dourada. Este é um partido anti-imigração, anti-democracia, anti-tudo. Os seus líderes foram implicados em assassinatos, em manifestações pró-nazis e muitos deles estão presos (incluindo o líder). Não vi tanto medo com um partido de extrema-direita ser o terceiro mais votado como com um partido de esquerda radical ser o mais votado e eleito para o governo. Não ouvi ninguém discutir os dois programas. Será que a Europa tem mais medo da extrema-esquerda do que da extrema-direita? Esquecem o que se passou no passado século?
Bem, o que peço ao povo português é que saia também do centro. Que seja capaz de dizer "basta!" como os gregos disseram. Se correr bem, como estou confiante que correrá na Grécia, poderá ser a nossa forma de sair da gaiola dourada em que nos aprisionaram (somos membros de uma União Europeia, aparentemente igual para todos, mas não temos a mesma voz que o centro e norte da Europa). Não gostaria que a União Europeia se desmembrasse (nem essa é a ideia do Syriza também) nem que os países do sul saissem do Euro (a moeda única é uma ideia brilhante, mas tem que ser uma ideia brilhante para todos) mas gostaria de ver uma frente unida dos países do sul da Europa (Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia) para que estas regiões tenham mais poder na Europa.
Por fim deixo-vos o convite a lerem o programa do Syriza (o Manifesto de Salónica / Thessaloniki Manifesto) para que tirem as vossas próprias conclusões e percebam que, talvez, exista outro caminho para a Europa:
Manifesto de Salónica (what the Syriza government will do)
Carta Aberta de Alexis Tsipras aos eleitores Alemães
Nota: Os textos e imagens foram retirados do site oficial do Syriza (syriza.gr) e serão retirados no caso de existir uma queixa formal do partido. São usados apenas para fins educacionais. Os textos apresentados estão em Inglês, traduzidos do original grego, que pode também ser encontrado no site. Se não conseguirem compreender Inglês, terei todo o gosto em traduzir, bastando para isso enviarem-me um e-mail.
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